sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Na Linha

Penso que essa relação de conectividade e dependência é patologia da tal da geração Y, desses meninos que mal aprenderam a apertar uma tecla e já estão com seus iphones enviando mensagens de texto para os amiguinhos com frases incompreensíveis, carregadas de gírias e palavras sem acentos. É melhor mesmo que estejam conectados todo o tempo possível desde já, afinal após o iminente término da infância a questão da identidade será um grande problema que terão que resolver, além das espinhas que terão na cara. OK. Também envio mensagens de texto para os meus amigos, mensagens essas que são substancialmente coloquiais e sem acento. Faço isso porque gosto de viver conectada com pessoas que precisam cuidar de seus trabalhos, famílias, relacionamentos, filhos, cultura e lazer e freqüentemente tem tempo escasso para nos encontrarmos. As minhas amigas de infância e eu estamos há três semanas tentando marcar um encontro e ainda não foi possível devido a impossibilidade de sincronizar as agendas. Na maioria das vezes me comunico com elas por SMS, também por e-mail ou pelo Facebook, é mais fácil do que ligarmos umas para as outras para dizermos repetidas vezes que não poderemos comparecer ao próximo evento pois estamos novamente muito atarefadas. Claro que eu tenho um perfil no Facebook, o que não faz de ninguém um tecnofreak, mas sim um indivíduo. Quem não interage nas mídias sociais hoje em dia não existe por completo, apenas vive parcialmente em um dos muitos universos possíveis de se transitar, sem as fragmentações e desdobramentos que nos permite (a mim e ao resto da humanidade) a vida em rede, conectada a outras vidas de multiplas identidades, narcísicas, esquizofrênicas e bipolares. Meu primeiro contato com a Internet foi em 1994, junto ao resto dos brasileiros, mergulhei nela de tal forma que os chamados nativos digitais demoram a me reconhecer como imigrante, mas não sou de maneira nenhuma tecnodependente. Não ando com meu notebook embaixo do braço, não tenho smatphone, tablet e nem nada da Apple, que é o carimbo dos tecnobsessivos. Eu aprendi o que era um meme não tem nem uma semana! Eu tenho caderno, faço anotações (no meu caderno com a minha lapiseira) e leio jornal. Eu amo livros, compro livros, freqüento livrarias e bibliotecas. OK. Não compro CDs e nem alugo filmes desde que me apresentaram o Torrent. Eu gosto muito do Torrent (mas menos do que dos livros) e não discuto suas implicações éticas pois ninguém se da ao trabalho de discutir o tema, mas caso seja do seu interesse podemos discuti-lo. Ah, eu escrevo nesse blog, mas é um blog de gente que não é tecnomaniaca, ninguém nem lê! Só você mesmo. Enfim, pelos motivos já citados anteriormente eu envio mensagens de texto todos os dias e hoje gostaria de enviar um SMS e eis que me dei conta que esqueci o celular em casa. Estava no ônibus quando percebi. Tenho o costume de ficar com o celular na mão quando estou percorrendo algum trajeto de ônibus... me relacionando! E hoje tinha que mandar essa mensagem e outras... tinha que confirmar minha presença em um evento... nada disso seria possível... meu pai e meu irmão poderiam me ligar para saber que horas eu voltaria, querendo combinar um jantar ou coisa assim...alguém (qualquer pessoa) poderia querer me contar alguma coisa que eu precisasse saber imediatamente, algo gravíssimo...ou uma fofoca...um convite irrecusável, porque não? Nada disso aconteceria, o mundo das possibilidades me foi arrancado nessa tarde. Eu me senti incompleta, inacessível, excluída, vazia e offline. O meu eu precisa ter acesso ao eu de outras pessoas para caso haja uma eventual necessidade. Havia necessidade. Fiquei angustiada, entediada e ansiosa para voltar pra casa, correr ao encontro do meu celular e ver as chamadas perdidas e as mensagens recebidas. Quando finalmente nos encontramos, eu e meu telefone celular simplesinho que já tenho há três anos e não planejo trocar tão cedo, não havia nada a não ser uma mensagem da minha operadora de celular tentando, certamente, me irritar com mais uma oferta repetida e não segmentada e outra da minha mãe, dizendo que tinha saudades.