segunda-feira, 24 de junho de 2019

Rejeição

Um dos meus principais gatilhos da ansiedade é a rejeição. Eu me sinto muito ansiosa quando acho que fui deixada de lado por qualquer motivo. Quando me sinto excluída e deslocada.

Eu sempre valorizei os meus laços e já fui muito boa em manter amigos. Um dia parei de me esforçar para não perder conexões, muitos amigos moram fisicamente longe e ainda somos próximos, então não há porque me preocupar tanto em perdê-los.

Não que essa preocupação não deva existir, demonstrar carinho por quem amamos é uma boa maneira de valorizar o outro e fortalecer as conexões, é comum ao ser humano a necessidade de se sentir incluído e receber afeto. Mas eu acho que me preocupava demais.

Era como se existisse o risco de as pessoas que eu gosto irem embora sem mais, sem despedida. Era como se um dia eu as encontrasse na rua e não houvesse o que falar, o que contar e saber.

Acredito que os laços se fortalecem e afroxam de maneira natural, de acordo com a afinidade e o momento da vida. Horas estou mais perto de algumas pessoas e em outros momentos tenho mais afinidade com outras. O que não significa que as primeiras vão sumir do meu radar ou gostar menos de mim.

Isso foi a maturidade que me ensinou, houve uma época em que mudei para um lugar novo sozinha e não tinha com quem sair e conversar, então eu deixei que pessoas que eu não tinha afinidade entrassem na minha vida, eu me esforcei para me aproximar de qualquer pessoa que estivesse disposta a me incluir em alguma parte de sua vida e foi maravilhoso.

A maioria das pessoas daquela época não ficaram na minha vida, mas ainda lembro daqueles que toparam dividir parte de suas vidas comigo, das coisas boas que me trouxeram como momentos divertidos, compania e outras visões de mundo tão diferentes das que eu trazia. Estar aberta me transformou.

Antes disso eu era de poucos amigos. Em partes porque eu sempre tive a sorte de ter bons amigos e gostava de dedicar meu pouco tempo livre a eles, em partes porque já fui muito tímida, tinha a autoestima tão baixa que achava muito difícil fazer novos amigos. Sempre me sentia inferior e desinteressante e não conseguia ser espontânea.

Ainda tenho um pouco desse desconforto, quando estou em um grupo novo ou de pouca intimidade eu fico insegura, penso que podem me julgar e não gostar de mim. Meu coração da até uma acelerada de ansiedade, a diferença é que hoje eu consigo ser espontânea mesmo não lidando bem com rejeição porque sou um pouco mais autoconfiante.

E eu também me abro para pessoas que não tenho afinidade porque sei que elas podem me trazer coisas boas, melhorei no quesito relacionamento desde a época da escola, na qual eu não tinha amigos e  me sentia péssima comigo mesma. Eu estava deslocada e ainda assim não queria me relacionar com pessoas que pensava não serem tão legais. Preferia ficar sozinha.

Talvez a origem do desconforto social que me acompanhou parte da vida e deixou resquícios seja a escola, eu tinha certeza de que eu não era boa, bonita e interessante o suficiente para merecer a atenção das pessoas. Talvez esse gatilho da rejeição seja tão forte porque há parte de mim que ainda habita nessas crenças.

Mas eu era, eu era divertida, criativa e inteligente. Eu queria correr até os corredores de todas as escolas que eu estudei para me convencer de que era maravilhosa. Cantar as músicas que eu compunha, recitar as poesias que eu escrevia, falar de todo o amor que existiu, existe e existiria só pra mim. Todas as aventuras. Falar da coragem que quase nunca faltou. Das loucuras, das gargalhadas.

Pra nunca esquecer, pra nunca deixar que ninguém me faça pensar o contrário. Pra lembrar de quem eu sou mesmo se alguém que amo e admiro me diga que não sou boa o bastante, não sou forte e suficiente ou seja lá a mentira que for...foi...

Esse gatilho da rejeição fica mais fraco quando eu consigo me conectar com a minha essência e perceber em quantas mentiras acredito até hoje sobre mim mesma. Às vezes precisamos nos resgatar.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Relatos #compulsãoalimentar2

Qual é o lixo que eu tento varrer para debaixo do tapete? Normalmente quando estou em um abismo emocional, que é como chamo o estado em que pensamentos negativos vem a mente de maneira acelerada e repetitiva e a ansiedade aumenta substancialmente, é quando a compulsão vem. As palavras chaves dos meus abismos emocionais são fracasso e não aceitação.

Percorrendo a minha história facilmente encontro situações nas quais eu me senti fracassada e não aceita, escrevi um pouco sobre isso no meu texto Medo. Superar a compulsão alimentar está diretamente ligado a reconhecer quando estamos em um abismo emocional e achar um caminho de volta para a serenidade, a parte difícil é que o único caminho de volta para a serenidade é olhar o lixo todo e inevitavelmente sentir dor, aceitar o medo, a frustração e tudo o que vier.

Uma mulher a quem admiro me disse na adolescência que se eu quisesse ofender meus oponentes em discussões bastava que eu os chamasse de frustrados, pois essa é uma ofensa certa uma vez que todos somos frustrados por um motivo ou outro. É verdade, a diferença é como lidamos com as nossas frustrações, a nossa vulnerabilidade e todas as decisões ruins que fazem parte de qualquer vida.


terça-feira, 11 de junho de 2019

Relatos #compulsãoalimentar1

Porque quero falar de compulsão alimentar. O que eu sei? Que não é possível super compulsão alimentar só com dietas, que dietas restritivas apenas intensificam a compulsão, que é preciso entender os gatilhos para pausá-los, quanto maior o número de vezes que forem pausados menos aparecerão ao longo do tempo.

O que eu ganho durante um episódio de compulsão alimentar é o alívio imediato da minha ansiedade, eu tenho associado os meus episódios de compulsão alimentar com televisão mais frequentemente porque isso funciona como uma anestesia para o desconforto. Assim eu consigo distrair a mente dos sentimentos negativos e sentir apenas prazer.

Eu acho que não vale o custo x benefício. Depois do episódio de compulsão, além de eu ter que lidar com o meu desconforto emocional muitas vezes tenho que ligar com o desconforto gástrico causado por grandes quantidades de comida ou alimentos que contém grande teor de açúcar e outras substâncias que causam mal estar. Mesmo sabendo os contras eu volto a esse comportamento.

Tive a ideia de falar sobre compulsão alimentar para acertar mais em pausar meus gatilhos. Com todas as informações que tenho hoje sobre compulsão e alimentação de qualidade sei que dieta nenhuma vai me ajudar  não importa em quantos nutricionistas, endócrinos ou clínicas de estética eu vá. Fui a muitas boas nutricionistas nos últimos anos que me ensinaram sobre alimentação e saúde e foi super válido, porém infelizmente só informação não cura.

Embora terapia e grupos de ajuda foram eficientes. Sei que existem milhões de pessoas no planeta na mesma luta que eu, sei que todos os compulsivos precisam de apoio e há momentos em que o apoio é fundamental para enfrentar a jornada de cura, mas o meu momento agora é organizar todo o conhecimento que já adquiri ao longo de mais de vinte e cinco anos e efetivamente refletir e aplicar na minha vida.

Sim, tenho compulsão alimentar desde a infância e posso seguramente dizer que há mais de vinte e cinco anos, mas durante todo esse tempo houveram anos em que eu estive muito bem, sem oscilação de peso e sem qualquer indício de compulsão. Alguns elementos são comuns nas épocas em que estive bem: Eu me sentia segura no meu relacionamento afetivo, no trabalho, fazia exercícios físicos intensos (ajudava com a ansiedade) ou tinha o cigarro como válvula de escape.

Eu gostava de fumar na janela do meu quarto, sentia um prazer enorme fazendo isso como se o cigarro fosse uma pausa das minhas angústias. Eu fumava muitas vezes mais de um cigarro para prorrogar o prazer e depois inevitavelmente tinha que lidar comigo mesma como é com a comida. Eu já não fumo mais há anos porque o cigarro destrói o corpo e se fumo tenho menos energia.

Alguns especialistas em reabilitação dizem que vício em comer é mais complexo que vício em álcool, cigarro, drogas e sexo, pois não vivemos sem comer. Faz bem a um viciado abandonar o objeto de seu vício, o cigarro e algumas drogas recreativas só fazem mal. Porém, sobre alguns casos de dependência, há benefícios em uma boa e esporádica taça de vinho, pessoas se viciam em analgésicos e outras substâncias que aliviam a dor, sexo é uma necessidade biológica. Não seria melhor entender a compulsão e achar um equilíbrio?

Realmente a comida envolve um leque amplo de complexidades pois o nosso corpo muda de acordo com a quantidade e qualidade de alimentos que ingerimos e esse aspecto é ligado a estética e aos padrões de beleza, então a alimentação, além da compulsão, envolve outros distúrbios como a anorexia e a bulimia. A ausência de comida ou o excesso de açúcar no sangue podem ser fatais e essa verdade pode fazer que enxerguemos a comida como algo ruim.

Uma das primeiras coisas que aprendi foi a importância de fazer as pazes com a comida, a comida pode ser nossa aliada nos oferecendo energia para uma rotina atribulada através de nutrientes e vitaminas que também ajudam nossos órgãos a funcionarem melhor e nos deixam mais bonitos e bem humorados. A comida é boa, essa é a lição mais básica de todas, aprender a usar a comida como aliada para inclusive evitar a compulsão.

Comer lanches saudáveis durante o dia, beber água e sentir prazer durante as refeições são armas contra a compulsão. É menos provável que aconteça um episódio de compulsão se não estamos sentindo fome, se estamos hidratados e se temos prazer na alimentação do dia a dia. Aprendi que não precisamos sofrer com uma alimentação restritiva ou ingerindo alimentos que não gostamos, há opções saudáveis e deliciosas e são esses alimentos que vão nos ajudar.

Aprendi com as nutricionistas que é muito mais eficaz, principalmente em casos de compulsão, acrescentar alimentos saborosos e nutritivos na dieta a restringir alimentos calóricos. Mesmo que comer pasta de amendoim com banana bem madura ou iogurte com frutas secas e castanhas (...) seja mais calórico na hora do lanche do que uma maçã, é menos provável que haja compulsão se foi prazeroso e adequado em termos de nutrientes no dia.

Podemos descobrir receitas mais saudáveis (e não necessariamente menos calóricas) para nossos pratos preferidos, aqueles que envolvem memórias afetivas e nos trazem conforto e podemos descobrir pratos de baixas calorias deliciosos para equilibrar na próxima refeição. Uma nutricionista me ensinou a me focar mais no meu corpo, nas sensações físicas, ele mesmo pede e encontra um equilíbrio em dias atípicos, se a alimentação típica tiver qualidade e for adequada.

Mesmo que a comida seja nossa aliada e pensando que por sorte não precisamos comer coisas que não nos dão prazer (comer sem prazer para quem gosta de comer é bem difícil) existe sofrimento sim envolvido em uma jornada de cura para a compulsão alimentar pois os gatilhos que levam a compulsão são gerados por stress, sentimentos ruins sobre a vida e nós mesmos para os quais precisamos olhar. Só conseguimos pausar o gatilho se olharmos para aquilo que estamos tentando evitar durante o episódio de compulsão.

Uma outra coisa legal que aprendi é que a cura não é sobre ter controle, é sobre aceitar o descontrole de algumas situações difíceis nas quais nos encontramos, aceitar a dor e o sofrimento para depois sentir paz e escolher conscientemente atitudes não destrutivas, mesmo que essas não sejam construtivas, mesmo que só reste a opção de respirar fundo e entender que não há mesmo como resolver dada situação, mas vai passar. Porque tudo passa e se transforma.

A cura é sobre lidar com frustrações e toda uma ideia que temos de nós mesmos, crenças que nos foram apresentadas durante uma vida e nunca questionamos porque tampouco as enxergamos. É sobre entender tudo que ganhamos e perdemos com a escolha de ter uma vida diferente, uma vida sem a compulsão. A cura é sobre conhecer limites e essências. Envolve dor.