quinta-feira, 26 de março de 2015

Na Escola

Eu cheguei na escola sem conhecer ninguém, naquela escola pequena daquela cidade pequena em que todo mundo me olhava meio curioso. Eu não fazia ideia do tipo de gente que eu iria me aproximar e não lembro como me aproximei de você. Você não gostava de música sertaneja, gostava de jogar tênis e falar pelos cotovelos. Eu não gostava de quase nada.

Tinha uma reguinha preta no seu estojo que a gente chamou de Willy e em muitos dos nossos momentos de abstração ela, a régua, mergulhava no ar. A janela do fundão dava pra uma bananeira (personagem de tantas histórias) e eu consigo sentir o cheiro da terra e o calor que marcou aquele ano, lembro da camiseta com a frase do Bob Marley, das pulseirinhas de miçangas e de todas as cores que meu cabelo teve.

Tinha o seu caderno que a gente usava pra anotar o resultado das nossas apostas sobre os possíveis casais, beijos e pés na bunda. Sobre algum time ganhar algum jogo, as nossas médias nos simulados e qualquer outra coisa que nos distraísse. No final do ano o grande perdedor pagaria uma consulta com a mulher do tarô pra gente poder desmascarar a “vigarista”. Você ganhou e nunca me cobrou.

Lembro daquele churrasco em que te convenci a andar de noite na estrada comigo pra gente achar um orelhão porque eu precisava avisar meu namorado que chegaria tarde na cidade. Da vez em que liguei pra sua namorada a seu pedido e interpretei uma telemensagem com trilha sonora do filme Titanic porque você não quis gastar sua mesada com presente. Lembro de quando fui almoçar na casa da sua avó e da comida deliciosa que ela fez. Do seu cachorro Boris/Priscila e da minha cadela Laila, eleita o cão mais feio do mundo.

A plaquinha com o meu nome daquela empresa do seu pai está até hoje colada na porta do quarto que era meu, na casa da minha mãe. Eu te ligava de tarde depois da escola pra passar o tempo ou contar alguma fofoca e você normalmente brigava comigo (menos quando a fofoca era boa), depois no fim do dia todo mundo ia de bicicleta até o clube e ficava lá fazendo esporte, namorando ou fazendo conversa fácil.

Eu passei a maior parte do ano letivo virada pra sua carteira falando e conspirando. Teve o dia em que a gente se surpreendeu pelo fato de hipérbole ser ao mesmo tempo tema de Língua Portuguesa e Matemática e achou que a professora tava dando aula errada, teve o dia que a Dona Adélia me deu um tapinha no rosto e disse que meu rostinho lindo não me levaria a lugar algum e explodimos em gargalhadas.

A gente disputava quem tirava as menores notas e planejava voltar na cidade depois de anos pra esfregar na cara dos professores nossos carrões e sucesso, que era certo. Eu tenho a foto que a gente fez questão de tirar na formatura da escola, mas perdi os tantos e-mails que trocamos depois disso. Passadas muitas histórias de tantos tempos diferentes, ainda hoje quando te encontro é como se você tivesse sempre estado aqui, é como se fosse tirar a Willy da carteira para um incrível mergulho no ar.