segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

2014

Eu sempre fui movimento, vivia buscando mais porque merecia ou talvez fosse só o meu ego articulando, mas o meu ego é parte de mim e eu sou parte do eterno movimento da vida. Não havia como conceber uma pausa.

Então houve um tempo em que eu já não sabia direito pra onde eu estava indo e o que eu vi ao meu redor foi só desconstrução, pensei que talvez se eu mudasse tudo de lugar eu poderia encontrar alguma peça que encaixava.

Achei, mas a procura me cansou de tal maneira que quando me dei conta o meu movimento havia cessado. Decidi sentar e descansar ali mesmo na incompletude, no cotidiano tal qual ele é e deixei que todas as coisas acontecessem enquanto eu contemplava.

Tive um ano leve e cheio de dias de paz, me senti mais presente e livre como se tudo o que eu sou estivesse escancarado o tempo todo, talvez porque eu tive mais espaço para ser. Eu fui tanto que expandi e quando me dei por mim eu já estava em movimento novamente.

domingo, 28 de setembro de 2014

Concursos Públicos

Comecei a estudar para concurso público no final de 2012 por desespero. Com exceção de algumas carreiras da magistratura e daqueles que crescem com objetivo de vida de ser policial, a maioria das pessoas que eu conheço e que chegaram ao caminho dos concursos foi por falta de opção melhor mesmo. Nenhuma criança cresce dizendo que quer ser Analista da Receita Federal.

E normalmente quando todas as outras opções são péssimas e a gente percebe que o concurso pode garantir um bom salário com uma qualidade de vida OK vem aquela sensação de perda de tempo por não ter pensado antes nisso. Acontece com a maioria das pessoas que estão nesse caminho e comigo foi a mesma coisa, fiquei alguns anos tentando me acertar em uma carreira que eu não gostava e sem nenhum sucesso e de repente tive esse insight.

Sou Publicitária. Eu me considerava uma pessoa criativa, aliás todos me consideravam uma pessoa criativa e eu pensei que poderia usar essa skill na minha carreira profissional. Gostei muito do curso e trabalhei na área em diversas empresas, odiei quase todas, fui mandada embora de várias e nunca aceitei o fato de eu não conseguir achar um caminho profissional estável. Então fiquei tentando, fiz especialização, mudei para o interior, fiz mestrado e nada mudou, não fiquei bem e nem consegui estabilidade profissional e financeira.

Cansei de procurar satisfação e decidi me focar na estabilidade, precisava. Eu tinha 30 anos, nenhum dinheiro na minha conta e nenhuma ideia na manga. Eu tinha parado de trabalhar por um tempo com objetivo de focar em um mestrado e já fazia mais de um ano que não ganhava salário, o dinheiro já tinha ido pelo ralo. E também depois da minha última experiência frustrada de trabalho eu precisei de um tempo para ver se alguma ideia melhor aparecia, concurso público foi a minha melhor ideia.

Assim me tornei funcionária pública. Tudo começou com um pedido um pouco acanhado ao meu pai para que me ajudasse a financiar um curso preparatório e ele me apoiou, eu não tinha mais nada na manga. Escolhi um concurso pra focar e me joguei de cabeça e sem olhar pra trás, não deu certo dessa vez e nem de muitas próximas. Mas uma hora deu, estudo é cumulativo e essa é a vantagem de de não desistir desse caminho, depende mais da gente que dos outros.

O que achei? Valeu a pena por um período. A minha experiencia pessoal foi boa, vivi coisas que jamais achei que viveria. Aprendi, cresci, me transformei. Tive estabilidade em todos os sentidos e tranquilidade para cuidar dos filhos que depois tive. É muito louco saltar da iniciativa privada para a vida pública, é bem diferente por motivos bons e ruins, o que se pode encontrar depende do órgão público e das escolhas e trajetória do ingressante. Eu quis qualidade de vida e estabilidade e encontrei bem mais.


domingo, 15 de junho de 2014

Despedida

Eu não sei dizer se você é o homem mais egoísta que eu conheci porque acho que conheci muitos homens egoístas, mas nenhum deles foi tão importante pra mim a ponto de eu lembrar agora, nenhum deles foi tão importante pra mim quanto você. Eu não digo isso por falta de amor ou falta de coisas, tenho certeza que o amor é abundante e você me deu muito mais coisas do que eu esperava. Digo isso porque cada gota de amor e cada centésimo de coisa foi condicionado. Houve condições tão pesadas, com juros tão altos de um preço já caro, que eu não dei conta de cumprir e isso me destruiu em diversos momentos, me enfraqueceu demais. Gastei muita energia buscando o seu amor, tentando te dar o amor na forma em que me era cobrado. Eu sempre busquei o seu amor desesperadamente porque nem sempre tive a certeza de que o tinha, porque a pesar de você ser meu porto seguro e eu não dar um passo sem ouvir sua opinião, o seu humor me oscilava (um porto fica mais seguro em mares calmos e a nossa praia sempre foi brava). Eu vivi tentando dar respostas às indagações que imaginei que você tinha porque eu queria viver de forma plena esse amor que sempre teve o ritmo que você deu a ele. Um amor tão grande e tão próximo que eu pensei que pudesse pagar qualquer preço e aceitar qualquer condição por ele, mas há tempos já sei que não posso, que repetir as mesmas situações sempre não passa de vício, do nosso vício. Então me despeço para que pela primeira vez na vida eu consiga viver nossa relação sem as contas habituais. Para que eu possa viver esse amor tão sabidamente grande que nos trouxe até esse ponto. Final.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Horizonte Nublado

Deve ter gente que sabe pra onde vai, que tem certeza de que está seguindo o caminho certo. Já eu não sou esse tipo de gente com direção, apenas caminho. Não que eu não queira chegar aos lugares que sonho, não que eu não tenha planejado nada. Acontece que que meus sonhos mudam muito e os meus planos nem sempre dão certo. Achei mais fácil focar no dia de hoje, no que pode tornar meu dia mais legal. Claro que penso no futuro, no amanhã. Só não consigo enxergar.

Karine

Foi esgotada para o trabalho, deixando a casa por varrer, a louça por lavar e a cama por arrumar. Estava tudo um caos. Tudo! No escritório tinha uma pilha de demandas para dar conta, fornecedores para ligar, e-mails para responder e documentos para conferir. Estava muito cansada. Estava exausta e ninguém parecia notar. Ela tinha que escolher entre fazer a janta ou a unha, ficar com os filhos ou depilar. Normalmente optava pela janta e os filhos. O marido? Trabalhava quase todo o tempo e já não sabia se era uma escolha. Os dois não ficavam a sós a muito, a intimidade se transformou em um check list de afazeres divididos e de contas compartilhadas. Aos finais de semana cuidava da casa, do lazer das crianças, dos pais idosos e das compras de supermercado que nunca tinha tempo de fazer durante a semana. E do que mais fosse necessário. Algumas vezes tinha vontade de deitar na cama, trancar a porta do quarto e dormir profundamente durante dias, mas o despertador continuava tocando as 5h40 da manhã.