Tímida. Se ela pudesse escolher algo que a descreveria a
palavra seria essa. Estava apaixonada, mas tinha para ela que um homem como
aquele preferia as mulheres mais espontâneas, daquelas que chegam nos ambientes
já dizendo o que pensam, brincando e hipnotizando as pessoas ao redor. Ela
sempre admirou essas mulheres que, independente da beleza ou posição, tinham um
charme arrebatador vindo provavelmente da autoconfiança e de um
certo sentimento de amparo. Coisas que ela mesma nunca teve. Sabia.
Sentia-se invisível. Era certamente um tipo que ninguém
reparava, aquela colega de classe que o nome fugia ou aquela moça do trabalho um
pouco antipática e muito quieta. Sabia
que não era feia e considerava-se até bonita quando colocava uma roupa adequada
no seu corpo curvilíneo, uma que escondesse aquela barriguinha indesejada saliente, e também tinha um belo sorriso embora de nada adiantava isso ou seu esforço em frente ao espelho, achava-se desinteressante. Não conseguia
expressar-se bem, tinha vergonha de expor suas opiniões mesmo entre conhecidos e ficava
vermelha, gaga e sem reação caso recebesse qualquer elogio de um homem. E se
fosse um elogio dele poderia até vomitar.
Gostava de ir direto pra casa depois do trabalho, estava lendo um livro
ótimo que a esperava no criado mudo ao lado da confortável cama de casal com a
qual havia se presenteado recentemente e na qual nada poderia afetá-la, não teria
que correr o risco de entrar em uma conversa que não saberia continuar ou de
ficar deslocada, como costumava ficar em diversas situações devido a evidente
falta de habilidades sociais e a aparente invisibilidade. Mas resolveu ir ao
happy hour apenas porque algo dentro dela fazia com que se sentisse mais viva
apenas por estar no mesmo ambiente que ele. E sentia-se patética por isso.
Foi ao toalete feminino com a necessaire, retocou a
maquiagem, penteou o cabelo, lavou e passou creme nas mãos. Chateou-se por não
ter um perfume na bolsa e por ter vestido naquela manhã a blusa preta e surrada que via pelo espelho, mas como iria saber que seria
convidada para o happy hour? E também não importava, ele não a enxergaria de
qualquer forma, ela queria apenas observá-lo de longe para distrair-se um pouco. Assim
que saiu do banheiro esbarrou em Moreno, um colega do departamento de Recursos
Humanos, que a chamou “Ei, você não vem?”. Disse que ia e foram juntos
conversando sobre amenidades. Nada que ela estivesse prestando atenção.
Iam caminhando, o bar era logo ali na esquina. Ela, assim que
chegou na rua acendeu um cigarro e assim que deu a primeira tragada sentiu-se
ótima. Depois mudou de ideia quanto ao programa, talvez porque não quisesse que
nada estragasse o seu bem estar e o barulho, a bebida e as conversas enfadonhas
acabariam com o seu recém adquirido bom humor, tanto quanto ser completamente
ignorada por ele. Disse a Moreno que não podia ir ao bar, desculpou-se sem
necessidade e mentiu que havia acabado de lembrar de um compromisso, um jantar
com uma amiga já marcado, teria que ir embora. Foi.
No caminho de volta,
enquanto dirigia, ligou para Leila afim de saber se a amiga e companheira de
apartamento de fato
gostaria de jantar com ela em algum restaurante bacana, poderiam beber umas
cervejas para brindar a noite quente, mas Leila explicou que estava presa no trabalho como
sempre. Então, ainda sentindo-se bem, tomou o rumo da sua casa escutando seu
velho CD do Cazuza, no caminho passou no supermercado e comprou uma lasanha congelada, uma salada de frutas já
pronta e uma garrafa de vinho.
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