terça-feira, 11 de junho de 2019

Relatos #compulsãoalimentar1

Porque quero falar de compulsão alimentar. O que eu sei? Que não é possível super compulsão alimentar só com dietas, que dietas restritivas apenas intensificam a compulsão, que é preciso entender os gatilhos para pausá-los, quanto maior o número de vezes que forem pausados menos aparecerão ao longo do tempo.

O que eu ganho durante um episódio de compulsão alimentar é o alívio imediato da minha ansiedade, eu tenho associado os meus episódios de compulsão alimentar com televisão mais frequentemente porque isso funciona como uma anestesia para o desconforto. Assim eu consigo distrair a mente dos sentimentos negativos e sentir apenas prazer.

Eu acho que não vale o custo x benefício. Depois do episódio de compulsão, além de eu ter que lidar com o meu desconforto emocional muitas vezes tenho que ligar com o desconforto gástrico causado por grandes quantidades de comida ou alimentos que contém grande teor de açúcar e outras substâncias que causam mal estar. Mesmo sabendo os contras eu volto a esse comportamento.

Tive a ideia de falar sobre compulsão alimentar para acertar mais em pausar meus gatilhos. Com todas as informações que tenho hoje sobre compulsão e alimentação de qualidade sei que dieta nenhuma vai me ajudar  não importa em quantos nutricionistas, endócrinos ou clínicas de estética eu vá. Fui a muitas boas nutricionistas nos últimos anos que me ensinaram sobre alimentação e saúde e foi super válido, porém infelizmente só informação não cura.

Embora terapia e grupos de ajuda foram eficientes. Sei que existem milhões de pessoas no planeta na mesma luta que eu, sei que todos os compulsivos precisam de apoio e há momentos em que o apoio é fundamental para enfrentar a jornada de cura, mas o meu momento agora é organizar todo o conhecimento que já adquiri ao longo de mais de vinte e cinco anos e efetivamente refletir e aplicar na minha vida.

Sim, tenho compulsão alimentar desde a infância e posso seguramente dizer que há mais de vinte e cinco anos, mas durante todo esse tempo houveram anos em que eu estive muito bem, sem oscilação de peso e sem qualquer indício de compulsão. Alguns elementos são comuns nas épocas em que estive bem: Eu me sentia segura no meu relacionamento afetivo, no trabalho, fazia exercícios físicos intensos (ajudava com a ansiedade) ou tinha o cigarro como válvula de escape.

Eu gostava de fumar na janela do meu quarto, sentia um prazer enorme fazendo isso como se o cigarro fosse uma pausa das minhas angústias. Eu fumava muitas vezes mais de um cigarro para prorrogar o prazer e depois inevitavelmente tinha que lidar comigo mesma como é com a comida. Eu já não fumo mais há anos porque o cigarro destrói o corpo e se fumo tenho menos energia.

Alguns especialistas em reabilitação dizem que vício em comer é mais complexo que vício em álcool, cigarro, drogas e sexo, pois não vivemos sem comer. Faz bem a um viciado abandonar o objeto de seu vício, o cigarro e algumas drogas recreativas só fazem mal. Porém, sobre alguns casos de dependência, há benefícios em uma boa e esporádica taça de vinho, pessoas se viciam em analgésicos e outras substâncias que aliviam a dor, sexo é uma necessidade biológica. Não seria melhor entender a compulsão e achar um equilíbrio?

Realmente a comida envolve um leque amplo de complexidades pois o nosso corpo muda de acordo com a quantidade e qualidade de alimentos que ingerimos e esse aspecto é ligado a estética e aos padrões de beleza, então a alimentação, além da compulsão, envolve outros distúrbios como a anorexia e a bulimia. A ausência de comida ou o excesso de açúcar no sangue podem ser fatais e essa verdade pode fazer que enxerguemos a comida como algo ruim.

Uma das primeiras coisas que aprendi foi a importância de fazer as pazes com a comida, a comida pode ser nossa aliada nos oferecendo energia para uma rotina atribulada através de nutrientes e vitaminas que também ajudam nossos órgãos a funcionarem melhor e nos deixam mais bonitos e bem humorados. A comida é boa, essa é a lição mais básica de todas, aprender a usar a comida como aliada para inclusive evitar a compulsão.

Comer lanches saudáveis durante o dia, beber água e sentir prazer durante as refeições são armas contra a compulsão. É menos provável que aconteça um episódio de compulsão se não estamos sentindo fome, se estamos hidratados e se temos prazer na alimentação do dia a dia. Aprendi que não precisamos sofrer com uma alimentação restritiva ou ingerindo alimentos que não gostamos, há opções saudáveis e deliciosas e são esses alimentos que vão nos ajudar.

Aprendi com as nutricionistas que é muito mais eficaz, principalmente em casos de compulsão, acrescentar alimentos saborosos e nutritivos na dieta a restringir alimentos calóricos. Mesmo que comer pasta de amendoim com banana bem madura ou iogurte com frutas secas e castanhas (...) seja mais calórico na hora do lanche do que uma maçã, é menos provável que haja compulsão se foi prazeroso e adequado em termos de nutrientes no dia.

Podemos descobrir receitas mais saudáveis (e não necessariamente menos calóricas) para nossos pratos preferidos, aqueles que envolvem memórias afetivas e nos trazem conforto e podemos descobrir pratos de baixas calorias deliciosos para equilibrar na próxima refeição. Uma nutricionista me ensinou a me focar mais no meu corpo, nas sensações físicas, ele mesmo pede e encontra um equilíbrio em dias atípicos, se a alimentação típica tiver qualidade e for adequada.

Mesmo que a comida seja nossa aliada e pensando que por sorte não precisamos comer coisas que não nos dão prazer (comer sem prazer para quem gosta de comer é bem difícil) existe sofrimento sim envolvido em uma jornada de cura para a compulsão alimentar pois os gatilhos que levam a compulsão são gerados por stress, sentimentos ruins sobre a vida e nós mesmos para os quais precisamos olhar. Só conseguimos pausar o gatilho se olharmos para aquilo que estamos tentando evitar durante o episódio de compulsão.

Uma outra coisa legal que aprendi é que a cura não é sobre ter controle, é sobre aceitar o descontrole de algumas situações difíceis nas quais nos encontramos, aceitar a dor e o sofrimento para depois sentir paz e escolher conscientemente atitudes não destrutivas, mesmo que essas não sejam construtivas, mesmo que só reste a opção de respirar fundo e entender que não há mesmo como resolver dada situação, mas vai passar. Porque tudo passa e se transforma.

A cura é sobre lidar com frustrações e toda uma ideia que temos de nós mesmos, crenças que nos foram apresentadas durante uma vida e nunca questionamos porque tampouco as enxergamos. É sobre entender tudo que ganhamos e perdemos com a escolha de ter uma vida diferente, uma vida sem a compulsão. A cura é sobre conhecer limites e essências. Envolve dor.






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