domingo, 28 de agosto de 2011

Aquela Menina

A beleza dela afrontava as outras meninas de modo que lhes despertava seus medos mais sombrios do abandono, da rejeição e do desafeto. Ainda porque era doce e de personalidade delicada, nenhuma qualidade negativa saltava aos olhos para que elas a pudessem condenar livrando-se rapidamente do desconforto. Ela não sabia que sua presença metamorfoseava as outras em animais selvagens. Bichos que instintivamente lutavam por um lugar no universo das aparências, o que lhes garantiria a dignidade e possível felicidade como asseguravam os valores ensinados ali mesmo. Elas a criticavam em tudo o que fazia, dizia e planejava, com comentários sutis e olhares oblíquos desvalorizavam tudo o que a ela pertencia. Sentiam um enorme prazer em vê-la excluída do grupo ou em dificuldades. Ela não podia ver o que causava ao escancarar sua beleza notável diante de figuras tão comuns. Caso soubesse certamente se faria feia tamanha a dor que sentia diante do desprezo e em nome da ânsia em ser aceita pelas demais. Ignorava a verdade porque desde cedo teve o infortúnio de trazer à tona o pior lado delas. O tempo passou e aquela menina perdeu gradativamente a confiança em si mesma e se mostrava a cada dia mais titubeante e insegura, quanto mais frágil menos incomodava as outras que, ainda assim, cuidavam enquanto podiam para que ela não reivindicasse o seu lugar.

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