terça-feira, 5 de julho de 2011

Como nos Filmes da TV

Estaria tudo bem se ela não tivesse caído no clichê de se apaixonar. Fez loucuras por ele, movida por uma paixão insana que a deixava gaga, sem vontade de comer e com as mãos tremulas. Looser. Ele se esquivava sempre, era evasivo e tinha umas estranhezas, como por exemplo, não lhe revelava a idade. Ela achava que ele beirava os 35, nunca soube. Sabia que ele era casado porque ele mesmo havia contado e por motivos bastante óbvios suspeitava que a história da separação não era real.

Encantava-se pela forma que a tratava, com todo cuidado e cavalheirismo, mas principalmente pela força que tinha, era implícita, ele era a própria força. O jeito sedutor, intenso, a autoconfiança, o respeito que impunha, a admiração com a qual as pessoas o olhavam a fascinava. Ele era um shot de tequila, saía com ele um dia da semana e sentia a sua falta todos os outros, queria embebedar-se, mas não tinha nada além daquele shot, apenas um, sem mais.

Ele ficou aprisionado em sua mente, o comparava com todos os caras que conhecia e ninguém o superava em nada, não conseguia se interessar por mais ninguém. Perdeu o foco. Bem ela, uma mulher linda, centrada e que sempre foi acostumada com a estabilidade, estava alí vivendo um romance com um homem que claramente nunca a assumiria, mas que a enlouquecia. Queria ela enlouquecer? Parece que sim. Parece que estava cansada de sua vida centrada e estável.

Foi um caos. Tentou deixá-lo diversas vezes. Não sei se fazia isso porque sabia que a cada vez que o deixava ele a procurava novamente e assim sentia-se "necessária" por um instante, ou se fazia porque seu instinto de autopreservação dizia que ela era a presa frágil de um predador experiente. Não tinha a menor chance de escapar, era a lei da natureza. Ele a consumia.

Uma das vezes que tentou deixá-lo ele a abraçou e chorou, estava deitado em seu colo e ela estava exausta, quase desmaiando por não comer e nem dormir devido a mais uma discussão dos dois. Ela precisava ir, sabia, mas ele insistiu para que ficasse. Ela queria fugir mas sua cabeça dominava seu corpo fraco e cansado que foi arrastando-se sozinho ao encontro dele. Despedir-se. Foi a última vez que ficaram juntos.

Viram-se algumas vezes depois, ele aparecia para tomarem um café. De alguma forma ele também não queria deixá-la, não sei se por orgulho ou por maldade, talvez por loucura. Ela concordava com os encontros porque nesse processo de abstinência apenas o fato dele aparecer já a tranquilizava um pouco e assim ela conseguia seguir em frente sem a antiga ilusão de que o tinha. Ela já sabia que não o tinha e nunca teria. Isso era dolorido e aliviador ao mesmo tempo.

Quando estava finalmente preparada o chamou para uma conversa. Sabia que não precisava justificar nada, mas queria um ritual, precisava olhar nos olhos dele e externalizar o fim para que ela mesma acreditasse em sua decisão. Assim fez, disse que não o veria nunca mais. Ele, cheio de opiniões e com sua intensidade rotineira, argumentou, protestou e negou. Ela não esmoreceu e estava tão convencida dessa vez que ele se resignou a sua vontade pois havia lhe dado tudo que queria, não tinha mais nada a oferecer. Então a abraçou e a rodou no ar como nos filmes da TV. Se despediram para sempre.

Ela me disse que nunca mais soube dele e quando perguntei se não tinha vontade ou curiosidade ela disse que não, que gostava de lembrar da sua paixão avassaladora daquele jeito, naquele extato momento em que ela estava nos braços dele, no ar, como nos filmes de TV. Eu não entendi. Ela explicou que assim era pois aquele foi o único momento da história em que os dois compartilharam o mesmo sentimento, a mesma decisão.

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