terça-feira, 5 de julho de 2011

O Retorno de Saturno

O meu aniversário de 28 anos foi ontem. Comprei um vestido pink piriguete, fiz reserva em um bar bem perto da minha casa e chamei uns amigos. Estava completamente animada com a comemoração. Naquele dia eu suspeitava que me casaria com meu namorado de anos, desenvolveria minha carreira na multinacional em que trabalhava e então teria a vida que o inconsciente coletivo nos leva a buscar sentindo finalmente a felicidade que as famílias que tomam café da manhã nas propagandas de margarina sentem.

Eu compraria um apartamento com ajuda dos meus pais e dos pais do meu futuro marido, que seria pago, provavelmente, em alguns anos com bastante economia, depois nasceriam meus filhos e eu teria os problemas da mulher moderna conciliando a maternidade, casamento, emprego e estética e então encontraria minhas amigas de infância em alguma festinha de criança e conversaria de todas essas coisas nos intervalos dos berros e corridas para impedirmos que nossas crianças enfiassem coisas sujas na boca, caíssem de cara no chão ou se matassem.

O dia do meu aniversário de 28 anos foi bastante divertido, muitas risadas, muitas caipirinhas e cervejas, muitas fotos, muitos casais na mesa e diversas perspectivas. O bolo estava bom, foi dado pelo meu então namorado, como sempre lá estava ele, companheiro, me mimando e cuidando, sempre atento para que tudo desse certo, claro que eu poderia suportar todos os defeitos dele, todos nós temos defeitos. Devo ter ido dormir feliz e bem resolvida depois de tirar a maquiagem e me preocupar um pouco com as calorias extras do dia.

Uma mulher prestes a fazer 30 anos precisa se atentar a algumas regras sociais básicas: vislumbrar uma carreira promissora, ou no mínimo ter um cargo significativo desses que pelo menos não dão vergonha de colocar embaixo da assinatura de e-mail. E se o casamento já não for fato consumado e tão pouco se aproximar, é obrigatório pelo menos ter um noivo ou, que seja, um namorado que nos dê a segurança de uma vida estável e normal. Ou isso ou o fracasso.

As coisas para mim foram acontecendo no sentido oposto. Quando eu olhei o que me aguardava precisei repensar em tudo. Não sabia mais quem deveria estar sentado ao meu lado na propaganda de margarina e, ainda pior, que diabos estava eu fazendo na propaganda de margarina? O que eu queria fazer antes disso, o que eu queria viver antes disso? O que eu queria de fato sentir? Surtei.

Um comentário:

  1. A comparação com a propaganda da margarina foi boa... Só que desde o começo da história dava para ver que é 'aquela felicidade ilusória'. Tipo... agora nós com quase 30 anos repensamos tudo que aconteceu. Não que foi ruim, claro que foi bom, mais tem pessoas que nao nasceram para isso, pelo menos tem que ser no momento certo... Somos estranhos mesmo, não podemos negar, depois disso vamos tirar mais uma lição de vida, ficar mais fortes, buscar a paz no lugar mais incomum possível. Talvez tenhamos que voltar as raízes... sei la....
    Beijos do primo que mesmo distante gosta de você.
    PAZ...

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